Resumo

Pessoas pedem coisas a deus: saúde, força para enfrentar as dificuldades da vida, clareza para poder distinguir o bom do mal, o certo do errado. Junto a estados de espírito de saúde, fiéis frequentemente pedem a deus coisas materiais que vão de casas, apartamentos, ou carros, a um sapato ou qualquer outro item na moda. Tal comportamento pode revelar relações de consumo importantes principalmente nos casos de fiéis que fazem doações em dinheiro a suas igrejas, estabelecendo com elas – e, quem sabe, com deus – relações monetizadas.

Este artigo pretende entender como os evangélicos se relacionam com deus com o objetivo de realização de desejos de consumo, acreditando que a intervenção divina é a responsável pelas coisas que acontecem em suas vidas. Para entender a relação de pessoas com deus, necessariamente, precisaremos analisar o campo da religião, de onde emanam os significados relacionados às divindades. A religião, vista sob uma perspectiva social, consiste em um sistema de fatos e dados, composto por símbolos.

A cultura do consumo representa o indivíduo socialmente, e que essa definição “implica que, no mundo moderno, as práticas sociais e os valores culturais, as ideias, aspirações e identidades são definidos e orientados em relação ao consumo”. O conceito de que o modo de vida das pessoas pode ser determinado unicamente por sua riqueza, e não mais por proibições religiosas (SLATER, 2002, p. 32). Considera-se que a religião e as crenças morais exercem uma influência sobre a ação social de pessoas, uma vez que as lideranças religiosas prescrevem, aconselham e impõem aos crentes os desígnios de deus.

A Abordagem qualitativa de pesquisa de natureza descritiva e exploratória foi adotada para o desenvolvimento do estudo. A produção de dados foi conduzida por meio de entrevistas semiestruturadas, em profundidade, com pessoas evangélicas residentes na cidade do Rio de Janeiro. Por tratar-se de uma questão que requer métodos analíticos, para interpretação dos dados, optou-se por utilizar a análise do discurso. optou-se por trabalhar com o software ATLAS.TI 7, para tratamento dos dados e seleção de categorias.

Foram analisadas as categorias identificadas: crença religiosa, relação monetizada, o que se pede a deus, participação em campanhas religiosas, com o apoio da fundamentação teórica e das entrevistas realizadas. O assunto aborda conceitos ligados à família, às identidades e a moralidade, que definem a pessoa e sua natureza. A crença religiosa reafirma as emoções de uma pessoa, mas também possibilita a manipulação (CAMPBELL, 2001) por conta dos agentes religiosos, os quais se posicionam como representantes de deus no mundo.

A religião aprisiona o indivíduo em um contexto social estabelecido por agentes religiosos que utilizam a persuasão para manterem o indivíduo em uma doutrina religiosa, sendo conhecida como a palavra e a vontade de deus, revelou a pesquisa. Os resultados indicam que as pessoas pedem de tudo. Os bens mais frequentemente elicitados são moradias (casa, apartamento) e veículo. A campanha religiosa é a forma mais comum do crente exercer a sua fé através de uma relação monetizada. A igreja/deus exerce o papel de mostrar o caminho pelo qual pode-se alcançar objetivos de consumo.

BELK, R. et al. Research in consumer behavior. Consumption and the meaning of life. Vol. 10. Elsevier. USA. p. 249-272, 2006. BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. Introdução, organização e seleção Sergio Miceli. Editora Perspectiva. São Paulo, 2015. CAMPBELL, Colin. A Ética Romântica e o Espírito do Consumismo Moderno. Tradução de Mauro Gama. Rio de Janeiro. Rocco, 2002.DURKHEIM, Emile. The Elementary Forms of Religious Life. The Free Press. New York, 1995.