Resumo

O mercado de startups está crescendo no Brasil e no mundo (GEM, 2018). Porém, 75% delas quebram nos primeiros cinco anos de operação (BLANK, 2013). Schein (2009) afirma que a performance das organizações não pode ser entendida sem considerar a cultura, pois ela impacta a vida de todos na empresa. Ries (2012) frisa a importância da inovação para a sobrevivência das startups. Apesar disso, foi verificada carência de artigos cujo objetivo seja analisar a contribuição da cultura organizacional para a inovação em uma startup. Assim, entendemos ser relevante a realização deste estudo.

Este estudo de caso qualitativo visou responder a questão: qual a contribuição da cultura organizacional para a inovação na Startup Alpha? Esta pesquisa teve por objetivo analisar os artefatos e valores dessa startup, para determinar a contribuição da cultura organizacional à inovação na empresa, identificando aspectos culturais que facilitam e que dificultam a essa inovação.

Neste artigo, a cultura organizacional é analisada sob a ótica de Schein (2009). Para ele, a essência da cultura de um grupo é o seu padrão de suposições básicas, compartilhadas e tidas como verdadeiras, e que se manifesta no nível dos artefatos e dos valores compartilhados. Startups são entendidas como empresas de base tecnológica, com modelo de negócios repetível e escalável e que trabalham em condições de extrema incerteza (RIES, 2012). E a inovação é vista como um processo que engloba a geração de ideias, seleção da melhor ideia e sua implementação (BESSANT; TIDD, 2009).

Schein (2009) destaca o papel essencial dos líderes na criação e propagação da cultura. Por conta desse enfoque, foram entrevistados os três sócios e dois gerentes da startup, em um total de 12 entrevistas semiestruturadas em profundidade. Como fontes de dados também foram empregadas observações não participante, documentos e conversas espontâneas. Os artefatos e os valores e crenças foram estudados sob a perspectiva de Schein (2009) e a análise de conteúdo foi feita à luz de Bardin (2006).

Como resultado da análise foi verificado que as facilidades presentes no ambiente físico da empresa, aliadas à informalidade e aos poucos níveis hierárquicos dificultam interrupções na geração de ideias, contribuindo para a inovação. Os valores de não aversão ao risco, colaboração das lideranças e dos colegas e mensuração constante dos projetos também facilitam a inovação. Já a valorização do trabalho árduo (com metas acirradas e pressão por resultados) e a ausência de políticas de bonificação e treinamento para os empregados são aspectos da cultura organizacional que dificultam a inovação.

Notamos que todos os artefatos observados e a maioria dos valores analisados são aspectos da cultura organizacional que facilitam a inovação na startup. Por outro lado, as metas acirradas e a pressão por resultados podem levar a redução do número de projetos inovadores ou a criação de projetos que gerem menor impacto. É preciso, portanto, que os líderes da startup percebam a importância da valorização da mão de obra, incentivem treinamentos e promovam o compartilhamento do conhecimento. Além disso, devem atentar para que todos na empresa compartilhem os valores relacionados à inovação.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2006. BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e Empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009. BLANK, S. Why the lean start-up changes everything. Harvard Business Review, 2013. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2018. GEM. Global Entrepreneurship Monitor: executive report 2018. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2018. RIES, E. A startup enxuta. São Paulo: Lua de papel, 2012. SCHEIN, E. H. Cultura organizacional e liderança. São Paulo: Atlas, 2009.