Resumo

São cada vez mais frequentes as pesquisas acerca do construto modelo de negócio (MN), mesmo não havendo consenso no meio acadêmico quanto à sua definição. Contudo, como as organizações têm uma relação de dependência com a sociedade e com o meio ambiente dos quais são parte, tem se tornado mais comum a decisão de colocar a sustentabilidade como propósito-chave dos MNs. Tal direcionamento demanda mudanças que extrapolam as fronteiras organizacionais. Todavia, ainda não são claras as características que asseguram a adoção bem-sucedida de um MN voltado à prática da sustentabilidade.

Dentre as organizações brasileiras que mais impactam a economia, o meio ambiente e a sociedade estão aquelas que atuam no segmento de transporte público, sendo São Paulo um dos estados mais significativos para estas três perspectivas. As ações das organizações atuantes no segmento de transporte podem contribuir ou prejudicar a sociedade, o meio ambiente e, consequentemente, a perenidade de seu modelo de negócio, conforme a qualidade das decisões que praticam.

Considerando a relevância dos construtos modelo de negócio e sustentabilidade, bem como a importância do segmento de transporte público para o estado de São Paulo e para o Brasil, propõe-se o seguinte problema de pesquisa: como se dá o impacto das características do modelo de negócio para a prática da sustentabilidade, conforme o ponto de vista dos indivíduos integrantes de organizações do segmento de transporte público paulista?

O objetivo do presente estudo é compreender como as características do MN impactam a prática da sustentabilidade em organizações do segmento de transporte público paulista, segundo o ponto de vista de quem as integra. Para tanto, são introduzidos os construtos MN e sustentabilidade; estabelece-se uma relação entre ambos; apresentam-se os procedimentos metodológicos aplicados, os quais incluem abordagem qualitativa e paradigma interpretativista para o levantamento documental e a realização de entrevistas em quatro organizações; e são analisados os resultados alcançados.

Os componentes dos MNs estudados não representam impeditivos nem impactos negativos à prática da sustentabilidade, porém as decisões relativas ao uso destes componentes causam as diferenças identificadas nos formatos e na abrangência das ações socioambientais. Quando os entrevistados se referem à sustentabilidade, especificamente, não há grande diferenciação entre as narrativas de organizações de natureza pública ou privada. Foi demonstrada concentração em uma perspectiva unidimensional, focada no meio ambiente, pouco considerando as questões sociais implícitas no conceito de sustentabilidade.

As características dos MNs estudados permitem a prática da sustentabilidade. Contudo, o pragmatismo da visão sobre sustentabilidade, manifestado pelos entrevistados, subjuga o tema às políticas e práticas gerenciais, preponderantemente focadas na perspectiva econômica do triple bottom line. As entrevistas indicaram dissonâncias entre resultados documentados e percepções dos entrevistados. Todavia, é possível reverter tal cenário, abandonando uma visão essencialmente pragmática e incorporando elementos mais abrangentes na cultura organizacional e nos objetivos de negócio.