Resumo

O papel da mulher na ciência, economia, organizações e sociedade tem passado por rápidas e significativas transformações. Apesar dos avanços em termos de inserção da mulher na pesquisa científica brasileira oferecerem otimismo pelo destaque internacional, há de se ter moderação quanto às interpretações a fim de exaurir possíveis vieses e conclusões precipitadas. Recentes estudos revelaram que, em comparação com os homens, mulheres tendem a ter uma produção acadêmica menor, em média. Contudo, tais estudos de gênero no contexto acadêmico e científico, ainda estão em fase embrionária no Brasil.

O presente estudo procura responder à seguinte questão de pesquisa: Como se configura a participação feminina na pesquisa científica em Administração e Contabilidade no Brasil? Para tanto, delineou-se como objetivo geral do estudo mapear a participação feminina na pesquisa científica em Administração e Contabilidade no Brasil.

O estudo da Elsevier (2017) revelou que, em comparação com os homens, no Brasil, as mulheres tendem a ter uma produção acadêmica menor e são citadas com menos frequência. As desigualdades entre os gêneros comprometem a progressão das mulheres no meio científico e acadêmico, sendo que pouca evidência tem sido lançada sobre a participação feminina em disciplinas científicas particulares (Rodrigues & Guimarães, 2016). Cappele et al. (2007) destacam que o estudo relativo aos gêneros necessita de técnicas de coleta e análise de dados mais inovadoras, como o uso de técnicas de análise multivariada.

Este estudo exploratório e descritivo, com abordagem positivista, mapeia a participação feminina na pesquisa científica em Administração e Contabilidade no Brasil, em 3.552 artigos da base de dados SPELL publicados entre 2016-2017 na referida área. Além da análise de conteúdo e estatística descritiva, foram utilizadas: Análise de Variância (ANOVA), verificando diferenças quanto à participação feminina por Qualis; e, Árvore de Regressão (CART), identificando os fatores que podem explicar a participação feminina na pesquisa.

A análise de conteúdo evidenciou os principais temas publicados pelas mulheres, a ANOVA permitiu verificar que existem diferenças significativas nas médias das representatividades femininas por Qualis, constatando-se que existe maior participação feminina em artigos com Qualis B4 e B3. A CART evidenciou que a maior representatividade feminina é encontrada nas pesquisas científicas que tem como temas Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, Estudos Organizacionais, Sustentabilidade, Empreendedorismo, Administração da Informação e Outros.

Observou-se que a representatividade feminina é encontrada nas pesquisas nos temas Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, Estudos Organizacionais, Sustentabilidade, Empreendedorismo, Administração da Informação e Outros. Verificou-se ainda maior representatividade feminina em artigos publicados em Qualis B4 e B3. As contribuições deste estudo residem no mapeamento desenvolvido que levou em consideração qualidade dos periódicos onde os artigos são publicados e os temas mais recorrentes por pesquisa com participação feminina.

Capelle, M. C. A.; Brito, M. J.; Melo, M.C.O.L.; & Vasconcelos, A. K. (2007). A produção científica sobre gênero nas organizações: uma meta-análise. REAd - Revista Eletrônica de Administração, 13(3), 502-528. Elsevier (2017). Gender in the global research landscape: analysis of research performance through a gender lens across 20 years, 12 geographies, and 27 subject areas. Rodrigues, J. G., & Guimarães, M. C. S. (2016). A Fundação Oswaldo Cruz e a ciência no feminino: a participação feminina na prática e na gestão da pesquisa em uma instituição de ensino e pesquisa. Cadernos Pagu, 46, 197-222