1 - ALICE DE FREITAS OLETO ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO (FGV-EAESP) - São Paulo
2 - Kely César Martins de Paiva UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - CEPEAD
3 - José Vitor Palhares dos Santos UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - CEPEAD/FACE/UFMG
4 - Letícia Rocha Guimarães UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Belo Horizonte
5 - Jane Kelly Dantas Barbosa UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - Faculdade de Ciências Econômicas
Reumo
Embora o fenômeno do assédio sexual nas organizações não seja algo recente, esse tema ainda é pouco discutido e evidenciado nas pesquisas no campo dos estudos organizacionais (FREITAS, 2001), principalmente quando relacionado com jovens trabalhadores, dadas as fragilidades e peculiaridades desse público no que tange a momento de sua inserção no mercado de trabalho, assim como a idade que limita tanto as experiências de vida como as de trabalho, o deixando à mercê de violências de várias ordens (TUCKER, LOUGHLIN, 2006).
A pergunta que este estudo pretendeu responder foi: como são percebidas situações de assédio sexual vivenciadas por jovens trabalhadores sob a perspectiva dos profissionais da Associação Alfa? E o objetivo que norteou a pesquisa foi: analisar como são percebidas situações de assédio sexual vivenciadas por jovens trabalhadores sob a perspectiva dos profissionais da Associação Alfa.
O assédio sexual é uma forma de violência física em que a vítima é perseguida no ambiente de trabalho, ou fora dele, com investidas de conotação sexual (DIAS, 2008). No Brasil, está previsto como crime no artigo 216-A do Código Penal Brasileiro (CPB, 1940): “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.” Ainda que haja respaldo legal, Hirigoyen (2014) sinaliza a dificuldade de fornecer provas de não consentimento à justiça.
Realizou-se um estudo de caso, de natureza descritiva e abordagem qualitativa. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas com roteiro semiestruturado, em que foram entrevistados 21 profissionais da Associação Alfa. Os dados coletados foram submetidos à técnica de análise de conteúdo.
Destacaram-se relatos nas entrevistas sobre a prática de assédio sexual contra jovens trabalhadoras, evidenciando um viés de gênero. Observou-se que superiores hierárquicos utilizam desta posição para assediar jovens nas empresas. Percebeu-se, também, que existe um medo por parte dos jovens de expor situações de assédio por receio de perder o emprego ou “manchar” sua imagem no mercado, pela possível finalização precoce do vínculo de trabalho. Por fim, e não menos importante, alguns profissionais da Associação Alfa percebem o assédio sexual como algo natural e corriqueiro nas organizações.
Pode-se concluir que existe a necessidade de intervenção dos profissionais da Associação Alfa na orientação e prevenção do assédio sexual com os jovens trabalhadores, visto que este fenômeno se mostrou presente no ambiente de trabalho e não há ações voltadas ao mesmo. Entretanto, o problema é ainda maior pelo fato de o assédio sexual ser visto como algo “normal” de se acontecer nas organizações, por alguns entrevistados. Neste caso, sugere-se revisão de conceitos/valores sobre o tema, diante do papel de formadores de opinião que estes profissionais exercem na associação, frente aos jovens.
DIAS, I. Violência contra as mulheres no trabalho: o caso do assédio sexual. Sociologia, Problemas e Práticas [online]. n. 57, p.11-23, 2008.
FREITAS, M.E. Assédio moral e assédio sexual: faces do poder perverso nas organizações. RAE, v. 41, n. 2, p. 8-19, 2001.
HIRIGOYEN, M. F. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. 14 ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
TUCKER, S.; LOUGHLIN, C. Young workers. In KELLOWAY, E. K., BARLING, J. & HURRELL, J. (eds.). Handbook of Workplace Violence. Thousand Oaks: Sage, 2006. p. 417-444.