Resumo

A história do aglomerado produtivo de suinocultura da região conhecida como Vale do Piranga - MG reserva peculiaridades próprias de sua forma de constituição e desenvolvimento. A principal delas é o protagonismo exercido pelos suinocultores locais e as instituições por eles criadas. Acredita-se que a investigação das ações que culminaram na criação das três principais organizações locais e setoriais da região – uma associação, uma cooperativa e uma indústria frigorífica - contribui para a compreensão da base sobre a qual se deu o processo de institucionalização desse mercado na região.

Essa investigação foi conduzida de forma a responder à seguinte pergunta: o processo de institucionalização do mercado de suinocultura no Vale do Piranga - MG foi resultante de ações autointeressadas ou de ações condicionadas por interesses coletivos? O objetivo foi compreender o processo de institucionalização por meio da análise da história de criação das organizações pioneiras deste mercado, e narradas por seus dirigentes.

O comportamento dos agentes no mercado pode ser associado às motivações que encontraram para decidir cooperar. Relações sociais, confiança, capital social são conceitos relacionados que auxiliam na compreensão das relações de cooperação e ação conjunta (GRANOVETTER, 1985; PUTNAM, 2002; BACHMAN; ZAHEER, 2014). A capacidade de cooperação voluntária privada melhora o desempenho institucional e econômico de aglomerações produtivas (SCHMITZ, 1997). Enquanto a análise de ação conjunta entre atores locais ajuda a entender a maneira pela qual emergem as instituições (DOUGLAS, 1998; NORTH, 2006).

Trata-se de um estudo de caso descritivo conduzido por meio do resgate das memórias dos suinocultores entrevistados com auxílio de roteiro semiestruturado, e acesso a documentos fornecidos pelas organizações analisadas. Foram realizadas 14 entrevistas com os dirigentes dessas organizações, identificados a partir do primeiro ano de gestão das mesmas. A análise dos dados contou com auxílio do programa Alceste, que permitiu a descrição dos dados obtidos sob a forma de agrupamentos de unidades de contextos, resultando nas seis classes descritas no trabalho.

A Classificação Hierárquica Descente reteve 72% do corpus, e agrupou seis classes. A classe 6, discutiu os antecedentes da suinocultura na região. A classe 2, a criação de uma representação política setorial e local. A classe 3, as condições de comercialização dos insumos, que levou à criação da cooperativa. As classes 1 e 4, a ação conjunta privada e voluntária entre atores locais para criação do frigorífico. A classe 5, os problemas atuais da suinocultura local. As classes foram analisadas de forma detalhada, destacando os elementos que contribuíram para o objetivo deste trabalho.

A ação econômica desencadeada nos diferentes momentos do processo de institucionalização do mercado de suinocultura analisado, esteve situado socialmente. Apesar do cálculo racional efetuado, existem práticas conduzidas por relacionamentos interpessoais, relações de confiança e outras herdadas por suinocultores antigos da região. Foi entendido que é por meio de suas instituições, por processos de cognição, e da habilidade social atribuída a um grupo específico, que as principais ações relativas às demandas da suinocultura do Vale do Piranga vêm sendo discutidas e compartilhadas.

BAIARDI, A. Competição e Competição/Cooperação. O&S, v. 15, n. 45, p. 47-60, 2008. COSTA, A. B.; COSTA, B. M. Cooperação e Capital Social em APLs. RDE, v. 9, n. 15, Salvador – BA, Janeiro, 2007. FLIGSTEIN, Neil. Habilidade social e a teoria dos campos. RAE, abr./jun., p. 61-80, 2007. NORTH, D. C. Custos de Transação, Instituições e desempenho Econômico. RJ: Instituto Liberal. 2006. PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. SCHMITZ, H. Collective Efficiency and Increasing Returns. IDS Working Paper 50. March, 1997.