Simbolismos, Culturas e Identidades Organizacionais
Autores
Nome
1 - Fabiana Florio Domingues UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) - CEPEAD
Reumo
Cidades com avenidas largas, bem projetadas, “higiênicas” de estilo clean, a cidade à altura dos olhos, na qual tudo se pode ver e admirar, uma cidade que “só é possível, do modo como a vivemos hoje, se o corpo e seus dejetos somem dos olhos” (SOUZA; BECHLER, 2008, p. 396). Na maioria das vezes esses “dejetos” são pessoas, parte da população, que deveria ser assistida pelo poder público, abandonada à própria sorte, mas que muitos gostariam “de limpar a cidade, homogeneizando seus múltiplos odores e ruídos em uma dimensão desvitalizada e controlável” (VENTURINI, 2009, p. 204).
Ações de higienização e gentrificação têm sido cada vez mais comuns nas grandes cidades, sejam elas nacionais ou internacionais, bem como tema de interesses em diferentes áreas do conhecimento. Este artigo tem o objetivo de revelar como a prática de recuperar no âmbito das cidades, a partir de ações de higienização e gentrificação, é percebida por pessoas que opinaram sobre a ordem dada e executada para retirada de pessoas da cracolândia na cidade de São Paulo.
Para além da frieza da materialidade urbana representada por cimento, vidro e asfalto, é preciso pensá-la como espaço no qual “os saberes se cruzam e se defrontam, ao tomar a cidade como objeto de preocupação, de elaboração de conceitos e execução de práticas” (PENSAVENTO, 2007, p. 19). Busca-se pensar a cidade em toda a sua complexidade enquanto construção humana, produto da relação entre sociedade e natureza. As contradições nos movimentos das práticas socioespaciais representam a tentativa humana na construção de um mundo objetivo (CARLOS, 2007).
A partir dos preceitos da pesquisa qualitativa, analisou-se os dados coletados por meio da análise de conteúdo a posteriori, uma vez que esta se dá a partir de condições textuais, sob uma concepção crítica e dinâmica da linguagem, levando-se em consideração seus componentes cognitivos, afetivos, valorativos e ideológicos. Assim, dando significado ao objeto, de acordo com a perspectiva teórica do pesquisador em relação ao objetivo do estudo (FRANCO, 2003). O corpus de análise é formado por um total de 540 comentários feitos por leitores de duas reportagens divulgadas no portal de notícias G1.
As análises apontaram que a maior parte dos opinantes não percebem a ação no âmbito das cidades, absorvendo o discurso midiático que envolve questões relevantes ligadas a violência e bem-estar social. Entre os que fazem referência aos atos, relacionando-os com a existência urbana, estão polarizados entre os apoiadores que enaltecem a ação do prefeito e a necessidade de limpar e revitalizar a área. Os que se posicionaram contrários aos atos, percebiam a ação como violenta provocando sentimentos de vergonha e tristeza.
Se no espaço público está presente a diferença, a heterogeneidade, corrobora-se com Carlos (2007), ao afirmar que o habitar está relacionado com ações articuladas em planos e escalas espaciais, na qual público e privado estão imersos e relacionados em histórias que são, ao mesmo tempo, particulares e coletivas. Compreende-se a complexa realidade urbana, porém, o que se viu foi a reprodução da violência social, do racismo, da segregação e da exclusão. Uma população que é vista e não lembrada, distante do dia a dia da classe dirigente, cada vez mais longe de políticas públicas inclusivas.
SHAW, S.; SULLIVAN, D. M. “White Night”: Gentrification, Racial Exclusion, and Perceptions and Participation in the Arts. City & Community, Washington DC, v.10, n.3, p. 241-264, Sep./2011. VELHO, G. Individualismo, anonimato e violência na metrópole. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 6, n. 13, p. 15-29, jun. 2000. ZUKIN, S. Reconstructing the authenticity of place. Theory and Society, Dordrecht, v. 40, n. 2, p. 161-165, Feb./2011. PESAVENTO, S. J. Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias. Revista Brasileira de História, v.27, n.53, p.11-23, jun. 2007.