Resumo

Título do Artigo

O Eu-para-mim, o Outro-para-mim e o Eu-para-o-outro: um Diálogo entre a Filosofia do Ato e os Paradigmas Organizacionais
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Palavras Chave

Paradigmas de Burrell e Morgan
Bakhtin
Ato Ético

Área

Estudos Organizacionais

Tema

Abordagens e Teorias organizacionais Contemporâneas

Autores

Nome
1 - ANA ELIZA FERREIRA ALVIM DA SILVA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA)
2 - Valderí de Castro Alcântara
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Departamento de Economia e Administração
3 - Marco Antônio Villarta-Neder
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) - Departamento de Estudos da Linguagem

Reumo

Considerando o debate já instalado, e bastante revisitado, sobre os paradigmas que têm guiado o campo dos estudos organizacionais, este artigo busca problematizar as dicotomias e incomensurabilidades do modelo de Burrell e Morgan (1979) a partir da obra “Filosofia do Ato”, de Bakhtin. Trata-se de uma nova lente teórica, capaz de enriquecer as reflexões do campo. As argumentações desenvolvidas pautam-se em pontos discutidos pelo Círculo de Bakhtin, como linguagem, diálogo, ato ético, responsabilidade, verdade, dever, não-álibi do sujeito, dúvida, intersubjetividade e agir frente à alteridade.
A discussão sobre os estudos organizacionais como campo de lutas (REED, 1999) passa pelo debate sobre a pertinência de pesquisas pautadas na ideia de paradigmas. A obra clássica de Burrell e Morgan (1979), inicialmente bem recebida por propor alternativas ao positivismo, acabou por mobilizar críticas, especialmente no que se refere à incomensuralidade dos paradigmas. Por ainda suscitar argumentos controversos, o debate em torno do modelo permanece aberto a contribuição de outras lentes teóricas. Percebemos, nas reflexões do Círculo de Bakhtin, uma possibilidade de enriquecimento desse debate.
A fundamentação teórica desenvolvida no artigo contextualiza e descreve os debates do campo dos estudos organizacionais acerca da ideia de paradigmas e do modelo de Burrell e Morgan. Em seguida, cita trabalhos que já teceram diálogos entre a produção do Círculo de Bakhtin e o campo, não sendo identificado nenhuma produção dedicada às observações teóricas propostas no artigo. Explora-se, então, conceitos fundamentais da obra do autor russo (diálogo e linguagem), além daqueles presentes na obra “Filosofia do Ato”, chegando-se à aplicação das relações de alteridade nas reflexões em debate.
É desenvolvido um ensaio teórico, pelo qual não se pretende que as interpretações sejam admitidas como verdades. “A verdade, como fim em si mesma, é responsável por retirar a originalidade da argumentação exigida no ensaio” (MENEGHETTI, 2011, p. 324). Portanto, o desafio assumido é o do enriquecimento das reflexões que constituem nosso objeto de estudos. A pretensão é colaborar para a qualificação do debate e das relações dialógicas em torno do tema.
Na análise de resultados, articulamos cada um dos conceitos do Círculo de Bakhtin extraídos da obra Filosofia do Ato a uma possível interpretação do modelo de Burrell e Morgan (1979). Observamos, principalmente, que a utilização do modelo de paradigmas nos estudos organizacionais está em dissonância com as reflexões bakhtinianas sobre relações de alteridade, dialogismo, dúvida, não-álibi, responsabilidade do pesquisador e ato ético.
Quando os paradigmas foram classificados em posições opostas, polarizadas, incomensuráveis e em número limitado, acabaram provocando nos pesquisadores uma postura de negação do outro, de tentativa de aniquilamento – o que interfere diretamente nas noções bakhtinianas de diálogo, de alteridade, de respeito pelo outro, de ato responsável (ético) e de dúvida. Assim, o que se provoca com o modelo é uma tentativa do eliminar da arquitetônica o eu-para-o-outro e o outro-para-mim, apostando-se apenas na noção do eu-para-mim – o que é impossível na visão de Bakhtin (2010).
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro e João Editores, 2010. BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological paradigms and organizational analysis: elements of the sociology of corporate life. London: Heinemann, 1979. MENEGHETTI, F. K. O que é um ensaio-teórico?. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 15, n. 2, p. 320-332, mar./abr. 2011.