Resumo

Nos lançamos ao exercício interpretativo das obras selecionadas de Jorge Amado numa perspectiva foucaultiana. Embora encontremos em Cacau (1933), Terras dos sem fim (1943) e São Jorge dos Ilhéus (1944) elementos que remetam a questões variadas desenvolvidas por Michel Foucault em Segurança, Território e População, no texto restringimos à reflexões sobre o biopoder que na narrativa amadiana se revela alicerçada no poder que os Coronéis exerciam sobre a vida de todos os demais homens daquele território e população.

Teria o Sul da Bahia se formado historicamente dentro daquilo que Michel Foucault analisa como biopoder? O objetivo do texto é traçar paralelos entre os conceitos estruturados por Foucault na obra Segurança, Território e População e a narrativa amadiana sobre a organização da chamada nação cacaueira em fins do século XIX.

A busca pela transdiciplinariedade em nosso ensaio portanto, diz respeito à crença de uma epistemologia com novas bases, não de ruptura, mas de restauração da função critica e reflexiva no seio do próprio saber administrativo. Baseados em Czarniawska (2000) o estudo de análise da narrativa (ficcional) amadiana que é pretendido aqui, parte do pressuposto de que a realidade é socialmente construída por meio das interações sociais das pessoas. Reconhece-se a existência de uma realidade socialmente construída, em virtude de que são as próprias pessoas, por meio de suas interações e ações.

A literatura amadiana aqui não é tratada como uma fonte a mais de documento que possa ilustrar uma interpretação baseada em fontes reconhecidamente científicas e, por isso, mais confiáveis; ao contrário, assumimos, com a escolha desse objeto, o desafio de nos lançar à leitura das experiências narradas sobre a formação sócio-histórica da região cacaueira sobre a forma de verossimilhança , e à luz da perspectiva de análise foucaultiana.

Biopoder que para Foucault compreende o conjunto de mecanismos pelos quais, aquilo que para a espécie humana constitui características biológicas fundamentais à sua vida e reprodução, passa a ser estratégia de poder na política, numa estratégia geral de poder. Desse modo, o biopoder se apresenta como sendo uma das configurações da governamentalidade que transforma a vida em objeto de poder nas Terras do sem fim narradas por Jorge Amado.

Os efeitos do biopoder são passíveis de compreensão em processos coletivos, como os que se institucionalizaram no sul da Bahia e mais especificamente na cidade de Ilhéus no início dos anos de 1900. Assim, a cidade e sua população tal qual foram se organizando, se tornam problemas da esfera de poder, necessitando de mecanismos de disciplina e regulamentação a exemplo dos processos que conduziram a vida e as ações de trabalhadores das roças de cacau, comerciantes, políticos, coronéis, exportadores, igreja e demais grupos que coabitavam naquelas Terras do sem fim.

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