Resumo

Este estudo trata do tema diversidade a partir das experiências das pessoas com deficiência (PcD). Além da premência de análise da diversidade sob a ótica dos informantes, acreditamos que a inserção de PcD no mercado de trabalho também merece atenção por existir, no Brasil, a obrigatoriedade legal de contratação de trabalhadores com deficiência e que objetivam sua participação não só em termos estatísticos. Entendemos que o conhecimento e o reconhecimento da diversidade humana são fatores-chave para garantir o direito da inclusão.

Mas será que as organizações que produzem e disseminam o conhecimento, ou seja, as universidades, conseguem implementar propostas de inclusão para pessoas com deficiência que levem em consideração as necessidades delas? Partindo dessa indagação, o objetivo deste trabalho é analisar as experiências laborais de servidores com deficiência na UFU e a relação dessas experiências com as orientações institucionais sobre o trabalho para PcD.

A existência da força de trabalho diversificada foi legitimada fora do Brasil por leis e minorias raciais, assim como por movimentos sociais e mudanças iniciadas na força de trabalho (Cox Jr., 1991). No Brasil, o marco legal ocorre com a promulgação da Constituição Federal. É importante ressaltar que a forma como a deficiência é vista pelos gestores e por colegas de trabalho influencia na adequação das condições de trabalho e na sensibilização organizacional sobre a diversidade (Carvalho-Freitas e Marques, 2010). Este trabalho orienta-se por essa lógica.

Para atender ao objetivo deste trabalho, realizamos uma pesquisa qualitativa. O método para procedimento de coleta foi o estudo de caso; as fontes: documentos e entrevistas narrativas (Flick, 2009) com servidores com deficiência. Os dados das entrevistas foram transcritos, sistematizados e interpretados por meio da análise de narrativas. O número de participantes, 16 servidores, foi determinado pela redundância do discurso (Gaskell, 2002). As entrevistas foram gravadas e, as identidades dos participantes, resguardadas, a fim de evitar constrangimentos com a publicação da pesquisa.

Aspectos institucionais detectados em três situações: ausência de registros claros sobre servidores deficientes; omissão da possibilidade de adaptação no estágio probatório; desatualização do manual de Perícia Oficial. As evidências na análise das narrativas: entendimento que o servidor tem de si e da deficiência é fator que influencia sua postura perante o trabalho; os relacionamentos organizacionais são equilibrados, no entanto surgiram relatos de discriminação e de preconceito; atitudes inclusivistas não são o padrão institucional, mas se mesclam com posturas nessa direção.

No caso estudado a deficiência parece ser motivada por imposições legais e não pela existência da cultura inclusivista. Ainda, notamos a presença de rótulos e preconceito.Os servidores levantaram inadequações comportamentais, especialmente partindo de chefias, e de infraestrutura dos campi, O fato de ainda haver pontos das narrativas que indicavam a necessidade de reconhecimento das capacidades e de promover uma mudança cultural, bem como de vivenciar das mesmas experiências de PsD, indicam que a Instituição está defasada no que se refere à inclusão.

CARVALHO-FREITAS, Maria Nivalda et al. Socialização organizacional de pessoas com deficiência. RAE., São Paulo, v. 50, n. 3, p. 264-275, Sept. 2010. COX JR., Taylor. The multicultural organization. The Academy of Management Executive, vol. 5, n. 2, 1991. FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa, 3. ed. Porto Alegre: Artmed, Bookman, 2009. MOREIRA, Lilian B; CAPPELLE, Mônica C. A.; CARVALHO-FREITAS, Maria Nivalda. A dinâmica identitária de pessoas com deficiência: um estudo no Brasil e nos Estados Unidos. Revista de Administração Mackenzie, v. 16, n. 1, p. 40, 2015.