Resumo

Nos últimos anos, as questões ambientais ganharam maior relevância no cenário empresarial em função da preocupação da sociedade com o aquecimento global, exaustão de recursos naturais não renováveis e as possíveis externalidades negativas desses fenômenos para a humanidade. Nesse sentido, verifica-se que a divulgação de informações socioambientais tem se tornado cada vez mais recorrente nas últimas décadas, tendo em vista a necessidade informacional dos stakeholders, que também demandam informações sobre as ações e os projetos desenvolvidos pelas firmas em prol da preservação do meio ambiente.

Considerando, então, a relevância científica e social de realizar pesquisas empíricas sobre o disclosure ambiental, conforme descrevem Gubiani, Santos e Beuren (2012), bem pela crescente evidenciação de informações ambientais por parte das empresas listadas na BM&FBovespa, o presente estudo tem como objetivo investigar os fatores determinantes da divulgação voluntária das práticas ambientais adotadas pelas empresas listadas na BM&FBovespa.

A pesquisa fundamenta-se na Teoria da Agência, proposta por Jensen e Meckling (1976), uma vez que a divulgação de informações, como as de caráter ambiental, poderá atenuar conflitos de agência, reduzindo, assim o problema de assimetria informacional entre gestores e acionistas. De forma complementar, baseia-se na Teoria da Legitimidade, em que cabe as organizações o dever de atrelar suas ações às práticas socialmente responsáveis (O’DONOVAN, 2002) e na Teoria da Divulgação, tendo em vista que investiga as motivações para a divulgação das informações, o discretionary-based disclosure.

A pesquisa documental foi realizada com base nos dados das Demonstrações Financeiras Padronizadas, dos formulários de referência e dos relatórios anuais Relate ou Explique para Relatório de Sustentabilidade, obtidos por meio da base de dados Bloomberg® e do site da BM&FBovespa. A amostra da pesquisa compreende 272 companhias listadas na BM&FBovespa, uma vez que optou-se por excluir companhias que não apresentaram todas as informações necessárias ao estudo na janela de 2011-2015, bem como as companhias do setor financeiro. O método de análise empregado foi uma regressão logística em painel.

Os resultados evidenciam que o tamanho da empresa, o índice de sustentabilidade empresarial, a alavancagem e a internacionalização possuem relação positiva e estatisticamente significante com a divulgação de informações voluntárias ambientais, sendo esses fatores considerados como determinantes para o disclosure voluntário. No entanto, observa-se que a rentabilidade, o endividamento, a empresa de auditoria e governança corporativa não apresentaram-se estatisticamente significantes. Isso implica não ser possível atestar para a influência desses fatores na divulgação de informações ambientais.

Em síntese, além de corroborar os achados de outras pesquisas (ANDRIKOPOULOS; KRIKLANI, 2013; GRECCO et al., 2013; JUHMANI, 2014; SILVA et al., 2015), foi possível identificar novas e distintas evidências em relação aos estudos que investigaram se as empresas que possuem um maior grau de internacionalização tendem a divulgar informações voluntárias de caráter ambiental (MURCIA et al., 2008; ALMEIDA-SANTOS et al., 2012; ROVER et al., 2012), uma vez que esses não encontraram relação estatisticamente significativa entre a internacionalização e o disclosure de informações ambientais.

ANDRIKOPOLOS, A.; KRIKLANI, N. Environmental Disclosure and Financial Characteristics of the Firm: The Case of Denmark. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, v. 20, n. 1, p. 55-64, 2013. JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H. Theory of the firm: managerial behaviour, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, v. 3, p. 305-360, 1976. O’DONOVAN, G. Environmental disclosures in the annual report: extending the applicability and predictive power of legitimacy theory. Accounting, Auditing and Accountability Journal. v. 15, n. 3, p. 344-371, 2002.